E o canto da missa?
Prosseguindo com o artigo anterior (clique aqui), quero prosseguir minha reflexão, desta vez com o uso do profissionalismo nas músicas cantadas em nossas missas incluindo a influência de estilos musicais variados. Acompanho o trabalho de muitos amigos músicos leigos, religiosos e clérigos que se empenham em oferecer os melhores recursos para o canto litúrgico mas que, constantemente, recebem críticas tais como: "esta melodia é muito difícil"; "as pessoas vão só assistir a missa se cantarem deste jeito"; "na missa tudo tem que ser muito simples". Algumas vezes estas expressões
são ditas num contexto reflexivo, outras vezes refletem a mera indisposição e preguiça de se aprofundar no tema. Quero me pautar em cima de pronunciamentos da CNBB para esta reflexão.
Como pressuposto admitamos o Magistério Eclesiástico: “A Igreja (...) aprova e admite no culto divino todas as formas de verdadeira arte, dotadas das qualidades devidas” (Sacrossanctum
Concilium, 112) – GRIFO NOSSO. Ainda o mesmo Concílio Vaticano II prossegue: “O
canto popular religioso seja incentivado com empenho” (Sacrossanctum Concilium
118).
Neste sentido, partimos do pressuposto teológico de
que a Liturgia é uma ação DO povo e PELO povo. Numa dessas dimensões está a
comunidade que ora e canta à partir de sua realidade cultural. A CNBB reconhece
esta dimensão quando aponta que “surgiram cantos que correspondem mais à índole
própria das diversas regiões e comunidades, significando um avanço no processo
da inculturação, quanto aos textos, às melodias, aos ritmos e instrumentos”
(Estudos da CNBB 79 - A música Litúrgica no Brasil, 18). Recordando que “outros
gêneros de música sacra, especialmente a polifonia, não são absolutamente
excluídos” (Introdução Geral do Missal Romano 41). É fato que nem todas as
assembleias se identificam com ritmos sertanejos (e outros diversos) que já são
utilizados em nossas comunidades para animarem a liturgia; há também
assembleias que gostariam de se apropriar de uma musicalidade própria a sua
realidade sócio-cultural e que correspondesse ao que se é exigido pelas
rubricas litúrgicas para cada rito específico.
Partindo de requisitos musicais e teológicos
constatamos com nossa experiência aquilo que também a CNBB já havia apontado:
“o cantar das assembleias demonstra, não raro, grande pobreza rítmica e
contrasta com a riqueza de ritmos da música brasileira. E nem poderia ser
diferente, pois mesmo aqueles cantos que, por sua natureza, são portadores de
ritmo bem marcante e característico, cantados sem o devido acompanhamento
instrumental, terminam na vala comum da mesmice arrastada e entediante”
(Estudos da CNBB 79 - A música Litúrgica no Brasil, 31). Também é verdade o
fato de que “muitas comunidades não têm manifestado interesse na aquisição de
músicos competentes e de coros de boa qualidade. Isso ocorre, entre outras
razões, pelo fato de não se remunerar devidamente o serviço dos músicos e de
não se investir na sua formação litúrgico-musical. É sintomático que, nos
conservatórios e nas faculdades de música, a grande maioria dos estudantes
provém das Igrejas Evangélicas” (Estudos da CNBB 79 - A música Litúrgica no
Brasil, 39).
Deste modo, o que falta é estudo, investimento e reconhecimento da arte musical profissional no canto litúrgico. Todos ficamos admirados com a beleza do canto nas missas do Santo Padre em Roma (que conta, inclusive, com Monsenhor Marcos Pavan que é brasileiro e ordenado na Diocese de Campo Limpo). Então, além de ser estimulado pela Igreja, o profissionalismo no canto colaboraria e muito com a expressão litúrgica da oração. Conforme os pronunciamentos da CNBB, não se trata de se utilizar de um único estilo musical, mas de integrar os diversos estilos dentro daquilo que é próprio das rubricas litúrgicas e adequado ao rito celebrado.
Para aqueles que reclamam que os músicos "enfeitam" demais quando tocam e fazem introduções, interlúdios finalização em suas músicas, que tal ouvir o Gloria in Excelsis Deo na Missa do Galo da Catedral Metropolitana do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo em Westminster, Londres.
OBS: Repare no solo do orgão no interlúdio.
Ver: Profissionalismo e Evangelização - Parte 1.
Deste modo, o que falta é estudo, investimento e reconhecimento da arte musical profissional no canto litúrgico. Todos ficamos admirados com a beleza do canto nas missas do Santo Padre em Roma (que conta, inclusive, com Monsenhor Marcos Pavan que é brasileiro e ordenado na Diocese de Campo Limpo). Então, além de ser estimulado pela Igreja, o profissionalismo no canto colaboraria e muito com a expressão litúrgica da oração. Conforme os pronunciamentos da CNBB, não se trata de se utilizar de um único estilo musical, mas de integrar os diversos estilos dentro daquilo que é próprio das rubricas litúrgicas e adequado ao rito celebrado.
Para aqueles que reclamam que os músicos "enfeitam" demais quando tocam e fazem introduções, interlúdios finalização em suas músicas, que tal ouvir o Gloria in Excelsis Deo na Missa do Galo da Catedral Metropolitana do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo em Westminster, Londres.
OBS: Repare no solo do orgão no interlúdio.
Ver: Profissionalismo e Evangelização - Parte 1.
Parabéns pelo EXCELENTE texto, concordo em grande parte com tudo o que foi dito nas duas partes, porém acho interessante fazer alguns levantamentos.
ResponderExcluirCom relação a música litúrgica, jamais devemos esquecer que quando estamos dentro da Igreja devemos "desapegar" de tudo aquilo que é profano, e buscar o ambiente mais favorável para a oração. Essa "inculturação" acaba sendo muitas vezes mal interpretada, e as vezes por mais divertidas que sejam não nos levam a rezar. Como acho que já comentei com você uma vez, sobre a missa Sertaneja, que tem la em Garça, é "nostálgico" é bonito, emociona, mas não favorece a oração, e aquela missa acaba por ser apenas mais um momento "gostoso". Alguns locais tem um rítimo mais animado, agitado, que o povo dança, tem coreografias nas letras, e como diz Adélia Prado você sai da missa procurando algum lugar pra rezar. Por isso acredito que dentro das normas litúrgicas de cada canto, deve ter melodias que ajudem a rezar e nada mais.
Com relação ao profissionalismo, de fato é de suma importância que busquemos oferecer o melhor para Deus, e encarar como ministérios o serviço que exercemos, que busquemos o conhecimento. Mas nosso ministério JAMAIS pode chamar mais a atenção do que o próprio Cristo, ele deve ser sempre o foco e o 1º lugar, a partir do momento que se perde isso, começa a aparecer confusões (diabolus) e o profissional passa a chamar mais a atenção que o Deus que o profissional anuncia, logo os fiéis passam a seguir o profissional e não o próprio Deus, a sociedade de hoje nos incita a isso, de buscar um ídolo, e Cristo é deixado de lado.
Mais uma vez parabéns pelo texto, não estou criticando nada, apenas levantando temas, Deus abençoe, e persevere nessa evangelização digital
Biel - Garça/Marília
Obrigado, Biel, pelo comentário. Meu próximo post será sobre como não deixar o profissionalismo "abafar" a evangelização. Gratidão pelo apoio e orações.
Excluir