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10 de setembro de 2014

Profissionalismo e Evangelização - Parte 1

Fazemos as coisas com unção?


Temos vivenciado tempos onde a tecnologia e a técnica têm encontrado na forma de Evangelização seu desdobramento nunca visto antes. Afinal, seria justo e coerente "profissionalizar" as formas de evangelização?
Há muito muito de extremismos que gostaria de me manifestar a respeito.

Deus quis se encarnar e, de modo plenamente humano, nos falou. A Constituição Dogmática Dei Verbum ensina que "na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades" (Dei Verbum ,178 GRIFO NOSSO). De fato, a graça de Deus supõe a natureza humana (Sto Tomás de Aquino) de modo que não se utilizará de algo que o ser humano não possua.

Partindo deste pressuposto, a qualidade da expressão de evangelização será a mesma qualidade com a qual somos qualificados. Embora o conteúdo do anúncio seja completo em si mesmo, pois anunciamos Jesus Cristo e sua Verdade Revelada, o modo pelo qual nos utilizamos para efetuar este anúncio pode estar comprometido. Como diria minha avó, agora é que a porca torce o rabo. Um questionamento mínimo é feito: apenas a boa vontade supre as necessidades de evangelização?

Tem muita gente que quer justificar seu comodismo em não estudar e se aprofundar chamando para si a "unção do Espírito Santo". Balela! Aliás, muitos sequer compreendem perfeitamente a "unção do Espírito Santo". Biblicamente, o termo unção nos remete ao termo cristós, que ao pé da letra significa "aquele que recebeu a crisma". Jesus é o Cristo, aquele que recebeu esta unção. Os ungidos eram pessoas que, uma vez escolhidas por Deus, eram reconhecidas pela comunidade como capazes para cumprir com o seu chamado. Profetas, reis e sacerdotes recebiam a unção ao serem reconhecidos e instituídos em suas funções. Trocando em miúdos, ungido é aquele que foi capacitado.

Se ungido é aquele que foi capacitado, então, improvisar na hora de evangelização vai na contramão do fato de ser ungido. Esta unção precisa ser compreendida em seu duplo significado: eleição divina e disposição humana. Na eleição divina está Deus que nos escolhe para determinada missão. Tocar numa missa, ser catequista, colaborador de pastoral ou seguir a profissão religiosa requer o chamado de Deus em primeiro lugar. Paralelo a resposta ao apelo divino está a disposição da pessoa em cumprir e colaborar com este chamado. Isto requer entrega, dedicação e consagração. Tomemos como exemplo um jovem que sente em seu coração a vocação ao sacerdócio. Após sentir a inspiração divina em seu coração, ele se entrega à um longo caminho de formação e dedicação. A ordenação, ato pelo qual este jovem é ungido e consagrado padre, será, além de outras coisas, o reconhecimento público de que ele se encontra capacitado para esta missão. E isto só pode ocorrer depois de anos de estudos de Filosofia, Teologia, Administração Pastoral, etc. Esta unção não "cai do céu" na imposição das mãos episcopais.

Talvez o maior problema é que muitos não têm levado a sério - ou não têm compreendido a seriedade - da missão. Seja ser padre, seja tocar numa missa, seja fazer panfletos, a ação evangelizadores necessita de pessoas ungidas, isto é, de pessoas chamadas por Deus e que busquem capacitação para aquilo que fazem. Só boa vontade já não dá mais.

Imagine se as freiras que confeccionam as hóstias que na missa se tornarão o Corpo e o Sangue de Cristo tivessem apenas boa vontade? Já imaginou comungar uma oblata mofada, com gosto azedo, sem qualidade alguma? Tenho certeza que a sua experiência com o Sacramento da Eucaristia seria comprometida. Mas não é isso que ocorre. A "freirinhas" estudam a arte da culinária para aplicar na confecção de hóstias: qualidade da farinha, quantidade de água, qualidade das máquinas, temperatura do forno. A Ir. Cecília, do vídeo deste post, chega a contar um segredinho para as hóstias não travarem as máquinas. E tenho certeza que tanto este segredinho quando ao modo de se fazer, inclusive as máquinas, não se deu apenas sob inspiração na capela. Houve tempo de estudo e dedicação.

Para não me alongar nesta primeira parte, acredito que devemos imaginar que tudo o que fazemos na igreja é como se fosse a confecção das hóstias: estudo, dedicação e profissionalismo devem ser usados para que o melhor seja oferecido a Ele que pe digno de toda honra, glória e louvor (cf. Ap4,11).

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