Fazemos as coisas com unção?
Temos vivenciado tempos onde a tecnologia e a técnica têm encontrado na forma de Evangelização seu desdobramento nunca visto antes. Afinal, seria justo e coerente "profissionalizar" as formas de evangelização?
Há muito muito de extremismos que gostaria de me manifestar a respeito.
Deus quis se encarnar e, de modo plenamente humano, nos falou. A Constituição Dogmática Dei Verbum ensina que "na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades" (Dei Verbum ,178 GRIFO NOSSO). De fato, a graça de Deus supõe a natureza humana (Sto Tomás de Aquino) de modo que não se utilizará de algo que o ser humano não possua.
Partindo deste pressuposto, a qualidade da expressão de evangelização será a mesma qualidade com a qual somos qualificados. Embora o conteúdo do anúncio seja completo em si mesmo, pois anunciamos Jesus Cristo e sua Verdade Revelada, o modo pelo qual nos utilizamos para efetuar este anúncio pode estar comprometido. Como diria minha avó, agora é que a porca torce o rabo. Um questionamento mínimo é feito: apenas a boa vontade supre as necessidades de evangelização?
Tem muita gente que quer justificar seu comodismo em não estudar e se aprofundar chamando para si a "unção do Espírito Santo". Balela! Aliás, muitos sequer compreendem perfeitamente a "unção do Espírito Santo". Biblicamente, o termo unção nos remete ao termo cristós, que ao pé da letra significa "aquele que recebeu a crisma". Jesus é o Cristo, aquele que recebeu esta unção. Os ungidos eram pessoas que, uma vez escolhidas por Deus, eram reconhecidas pela comunidade como capazes para cumprir com o seu chamado. Profetas, reis e sacerdotes recebiam a unção ao serem reconhecidos e instituídos em suas funções. Trocando em miúdos, ungido é aquele que foi capacitado.
Se ungido é aquele que foi capacitado, então, improvisar na hora de evangelização vai na contramão do fato de ser ungido. Esta unção precisa ser compreendida em seu duplo significado: eleição divina e disposição humana. Na eleição divina está Deus que nos escolhe para determinada missão. Tocar numa missa, ser catequista, colaborador de pastoral ou seguir a profissão religiosa requer o chamado de Deus em primeiro lugar. Paralelo a resposta ao apelo divino está a disposição da pessoa em cumprir e colaborar com este chamado. Isto requer entrega, dedicação e consagração. Tomemos como exemplo um jovem que sente em seu coração a vocação ao sacerdócio. Após sentir a inspiração divina em seu coração, ele se entrega à um longo caminho de formação e dedicação. A ordenação, ato pelo qual este jovem é ungido e consagrado padre, será, além de outras coisas, o reconhecimento público de que ele se encontra capacitado para esta missão. E isto só pode ocorrer depois de anos de estudos de Filosofia, Teologia, Administração Pastoral, etc. Esta unção não "cai do céu" na imposição das mãos episcopais.
Talvez o maior problema é que muitos não têm levado a sério - ou não têm compreendido a seriedade - da missão. Seja ser padre, seja tocar numa missa, seja fazer panfletos, a ação evangelizadores necessita de pessoas ungidas, isto é, de pessoas chamadas por Deus e que busquem capacitação para aquilo que fazem. Só boa vontade já não dá mais.
Imagine se as freiras que confeccionam as hóstias que na missa se tornarão o Corpo e o Sangue de Cristo tivessem apenas boa vontade? Já imaginou comungar uma oblata mofada, com gosto azedo, sem qualidade alguma? Tenho certeza que a sua experiência com o Sacramento da Eucaristia seria comprometida. Mas não é isso que ocorre. A "freirinhas" estudam a arte da culinária para aplicar na confecção de hóstias: qualidade da farinha, quantidade de água, qualidade das máquinas, temperatura do forno. A Ir. Cecília, do vídeo deste post, chega a contar um segredinho para as hóstias não travarem as máquinas. E tenho certeza que tanto este segredinho quando ao modo de se fazer, inclusive as máquinas, não se deu
Para não me alongar nesta primeira parte, acredito que devemos imaginar que tudo o que fazemos na igreja é como se fosse a confecção das hóstias: estudo, dedicação e profissionalismo devem ser usados para que o melhor seja oferecido a Ele que pe digno de toda honra, glória e louvor (cf. Ap4,11).
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