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29 de setembro de 2015

Como ser um estudante fracassado

Como ser um estudante fracassado



Há alguns anos lecionando e tomando, inclusive, minha experiência pessoal enquanto estudante, resolvo escrever esta pequena cartilha do estudante fracassado. São seis elementos práticos que notei serem presentes na maioria dos estudantes que não possuem o primeiro dos sucessos: o sucesso da aprendizagem.


1.                  Falte o máximo que puder.


Isso mesmo. Falte tanto quanto puder. Todo estudante fracassado é aquele que não frequenta a rotina escolar. Não falo daqueles que são impedidos por algum fator de força maior (como aqueles que estão afastados devido a doença ou a algum problema familiar grave), falo daqueles que não querem mesmo ir à escola.

A lei garante para você a possibilidade de faltar a vinte e cinco por cento (25%) das aulas oferecidas[1]. Geralmente temos duzentos (200) dias letivos. Deste modo, você que deseja ser um estudante fracassado pode faltar cinquenta (50) dias no total, o que corresponde a cerca de um bimestre inteiro. Aproveite. Saia, jogue bola, assista seus filmes, fique na rua. Afinal, se a Lei Federal garante esse direito, seja esperto. Para que levar seus estudos tão a sério assim?

Estudos comprovam que o aprendizado com um tutor presencial possibilita o maior aproveitamento do aprendizado. Aliás, com o professor à disposição, as dúvidas poderão ser sanadas, seus erros corrigidos e um direcionamento melhor e eficaz a respeito de sua aprendizagem. É evidente que um estudante que deseja o fracasso não vai querer ficar o tempo todo em sala de aula fazendo lição e corrigindo suas tarefas, não é mesmo?

Ah, inclusive se por um acaso você se preocupar apenas com o seu número de faltas – e não com o seu aprendizado – o CEE (Conselho Estadual de Educação) dá o direito aos estudantes paulistas de realizarem um trabalho para a compensação de ausências. E isso é válido para que todos os “alunos possam compensar as ausências que ultrapassem o limite de 20% do total de aulas ao longo de cada mês letivo”[2]. Fique atento, quem define o controle de ausências e as suas compensações é o Conselho de Escola. Mas fique de boa, afinal, você quer mesmo ser um estudante fracassado.

2.                  Comemore as aulas vagas.


Professor faltou e os alunos serão dispensados? Oba! Comemore. Saia gritando pelos corredores. Estampe seu sorriso e vá curtir seu tempo livre. “Mas pera aí: Essa aula em que fui dispensado, eu vou ter reposição? ” Claro que não. Você pagou por uma aula que nunca mais você vai ter na vida.

E se entrar professor eventual e não passar absolutamente nada de matéria nem de exercícios? Grite de alegria. Afinal, o Estado de São Paulo gasta em média R$ 67 milhões[3] por mês para colocar um profissional na tua sala e você aproveitar nada da aula dele. Dinheiro oriundo de seus impostos. Mas você quer ser um estudante fracassado, então pode pagar este valor todo para não aprender nada. E se o professor eventual ousar ajudar no seu processo de aprendizagem, pense que essa atividade não vale nota (sobre as notas falarei mais adiante).

3.                  Desorganize a sala.


Sabe aquele tempo de conversa em sala de aula que o professor fica brigando com você para prestar atenção? Então, estudos apontam que o professor gasta vinte por cento (20%) da aula mantendo a disciplina da classe[4]. Pense. Uma aula de cinquenta (50) minutos terá dez (10) minutos perdidos só com o professor pedindo silêncio. Aliás, de aula mesmo, estudos apontam que apenas sessenta e sete por cento (67%) do total da aula são aproveitados para o processo de ensino e aprendizagem, algo em torno de trinta e três minutos e três segundos (33m3s). Você tem a noção disso? Você paga por uma aula de 50 minutos e recebe apenas 33 minutos e 3 segundos. E se você estudar no noturno o tempo de aproveitamento das aulas é bem menor. É como comprar uma pizza com oito pedaços e só receber cinco pedaços e meio. Dois pedaços e meio você paga, mas não recebe. Evidentemente que um estudante comprometido em ser um fracassado nos estudos não se importará com o tempo perdido.

4.                  Fique com o celular sempre à mão.


Sabe os minutos em que a sala está em ordem e o professor explicando? Pois bem, aproveite para ficar com seu celular na mão. Fale com amigos, mande mensagens, ouça suas músicas, acesse as redes sociais. Se você se empenhar bem e focar na tecnologia do seu celular e usufruí-la bem, certeza que o seu rendimento em sala de aula será comprometido.

Uma universidade inglesa aponta que as escolas que retiraram os telefones celulares durante o período de aula melhoraram catorze por cento (14%) de rendimento escolar[5]. Então, para quê melhorar este catorze por cento? Melhor é ficar com o celular na mão, o que te dá a garantia de fracasso nos estudos.

5.                  Seja um copista.


Você é daqueles que acham que copiar a lição da lousa é ser um bom estudante? Isso é coisa do passado. A moda é ser simplesmente copista para ser um estudante fracassado.

Há estudantes que colocam seu fone de ouvido e copiam aquilo que o professor põe na lousa. Copiam tudo, indiscriminadamente. Não são capazes de interpretar nada, apenas copiam. O importante é “ter a matéria no caderno”.

Aliás, sabe aquelas atividades de interpretação de texto, onde o professor pede para que você escreva “com as suas palavras” aquilo que você aprendeu? Nessa atividade o docente está te ensinando a interpretar os textos e se apropriar do conteúdo. O “explique com as suas palavras” significa dizer que você compreendeu plenamente o conteúdo de tal modo que você pode dizer que ele também é seu. Não é mais Platão que diz, ou Pitágoras, ou Fernando Pessoa. Mas é você que, ao se apropriar da teoria do autor se transforma em partícipe de sua mensagem.

Para o estudante que deseja o fracasso fica uma dica: na resposta de alguma questão, copie o trecho do texto inteiro. Aliás, digo mais, copie o texto todo. Melhor ainda, copie o livro todo. Isso mesmo, pois assim o professor não poderá ler tudo o que você copiou e poderá considerar sua atividade como feita. E você terá garantido o aprendizado zero a respeito da matéria.

6.                  Queira as notas, não o aprendizado.


“Professor, isso vale nota? ” Geralmente essa pergunta é feita esperando-se um “visto no caderno”. Pouco importa se você aprendeu a matéria, porque, o importante para o fracasso é ter nota, não aprendizado. Colecione vistos no seu caderno, mas não procure saber nada sobre os assuntos. O fracasso é garantido.

E nas provas e demais trabalhos? A cola te ajuda. Copiar a resposta do “coleguinha do lado” te ajudará a nunca chegar ao saber. Pegue as respostas prontas dos Cadernos do Aluno. Há vários blogs que te oferecerão a apostila totalmente respondida. Só copie. E se não deu tempo de copiar, copie a resposta do amigo do lado. Nas redações? Ah, o Google está aí para te dar textos perfeitos. Copie-os todos! Só assim para ser um estudante fracassado.  Não queria produzir nada de sua autoria. Copie. Copie. Copie. No final de tudo, queira o boletim com notas que não correspondem ao aprendizado. Sabe com o que você se parecerá? Com aquela pessoa que rouba o cardápio de um restaurante. Ela terá apenas um papel com o nome da feijoada, mas não a feijoada em si. O estudante fracassado quer isso: o cardápio e não a refeição.

Alguns estudantes querem algo além da nota. Querem o saber. Se no cardápio diz “pizza de calabresa”, elas querem a pizza de calabresa de fato, não apenas o cardápio impresso. Explicando-me. Os estudantes interessados querem que, se no boletim vier escrito a nota oito, que, de fato, tenham o aprendizado que corresponde a nota oito. Não querem apenas o número oito, mas o conteúdo das matérias que corresponde a nota oito.

·                    Conclusão.


Você tem aqui uma pequena cartilha com seis passos para ser um estudante fracassado. Seis por ser simbólico: na bíblia o seis significa o inacabado, o imperfeito. É assim o estudante fracassado. Ele é imperfeito, inacabado. Não deseja ser pleno, quer apenas o mínimo – e isso quando quer o mínimo. A você, estudante que deseja ser comprometido com seu aprendizado, faça tudo o que está aqui, mas de modo inverso. Assim você terá a certeza de colaborar e de participar do seu processo de ensino e aprendizagem.




[1] De acordo com a LDB – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996 – Artigo 24 - VI), do estudante é exigido a “frequência mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação. Ver a lei completa em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L9394.htm

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