É noite! Ansioso está o coração na espera daquele que está lá fora. A escuridão e a distância deixam inacessível aos olhos a presença do que é esperado. Os olhos fitos no horizonte para avistar, pela janela, a silhueta de quem é aguardado.
"Em meu leito, pela noite, procurei o amado de meu coração. Procurei-o e não
o encontrei! Levantar-me-ei, rondarei pela cidade, pelas ruas, pelas praças,
procurando o amado da minha alma! Procurei-o e não o encontrei!"(Ct 3,1-2).
A ansiedade da mulher de Cântico dos Cânticos joga-a para fora de sua casa em busca do amado que não é encontrado em lugar algum. O desespero de ficar só é angustiante. A solidão é inimiga.
Estamos sempre em busca de algo. No silêncio de nosso quarto a busca não adormece. Quantas noites a cama aumenta seu tamanho para que nos rolemos de um lado para o outro enquanto nosso pensamento voa às alturas, simplesmente por tentar encontrar algo.
Esta passagem simboliza, de certo modo, nossas atitudes perante o desejo de Deus que há em nosso coração. Saimos e o procuramos em pessoas, lugares, situações, que são estereotipadas como "lugares santos". Onde alguem diz ter se encontrado com Deus, para lá rapidamente nos dirigimos.
"Eu dormia, mas meu coração velava e ouvi o meu amado que batia: 'Abre, minha
irmã, minha amada'."(Ct 5,2)
Tenho um especial apreço pelo livro de Cântico dos Cânticos. No livro todo a mulher está em busca de seu amado. Mas este só é encontrado, neste trecho, quando a mulher está em seu quarto, num estado de não-busca. O amado não é encontrado, mas ele é quem encontra.
Santo Agostinho, na sua conhecídissima frase, nos conta que procurava Deus em todos os lugares. E onde Ele estava? Tão próximo, mas tão próximo que não podia ser em outro lugar: dentro de nós. Não é do outro lado do horizonte que Ele está, mas aqui.
Buscamos encontrar Deus em manifestações extraordinárias, como quando vamos assistir aos shows pirotécnicos, onde a beleza das cores que se mostram no céu é precedida por rojões, barulhos e efeitos que despertam a nossa atenção para o momento da revelação do mosaico que encobrirá o céu por alguns instantes. Deus não se manifesta assim. O encontramos na suavidade de Seus passos que passeiam no jardim à brisa do dia (cf. Gn 3,8).
Ele, o Deus vivo, não está além da realidade, num lugar onde apenas podemos encontrá-lo quando cumprimos inúmeras penitências e permanecemos num estado de santidade sobrehumana, mas está aqui.. aí.. perto de cada um de nós. Ele é acessível. É ele o Conquistador, e nós somos os conquistados. Não são nossos méritos que o atraem a nós, afinal, "que é o homem, para dele te lembrares?" (Sl 8,5).
Seu amor não poderia ser demonstrado de forma mais singela: Ele está aqui ao nosso lado tanto quanto este monitor está a sua frente.
A solidão muda seu significado. Não é ausência, mas presença. A intimidade só acontece na solidão. Os amantes preferem a solidão, a ausência de pessoas, barulhos e distrações. É ali que se conhecem. Não entenda isso de forma sexual, mas no sentido de haver troca de experiências, sentimentos, emoções, histórias... enfim, de vida.
Para se fazer a experiência de amor, com Deus, é necessário voltar ao nosso coração. Pois é ali que descobrimos sua imagem e semelhança. É ali, em nosso santuário interior, que o descobrimos de maneira pessoal, para ser incorporado na comunidade dos amados por Deus. Seu amor não está lá ou ali... além da montanha ou do horizonte. Mas aqui, tão perto, que até eu posso tocar!
"Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir!" Jer. 20,7
ResponderExcluirVivemos em uma religião distinta de algumas outras, onde Deus mesmo busca o ser humano.
E essa busca comumente ocorre como na passagem dos Cânticos, vemos o ser humano que vive uma intensa busca, como comentado, e na maioria das vezes não o encontra. Restando a Deus a tarefa de vir-lhe ao encontro.
Espetacular lembraça tive agora de quando Jesus disse:"Vinde a mim todos vós que estais cansados sobre os vossos fardos, e eu vos aliviarei."
Talvez esse cansaço dito, seja a fadiga por essa busca frustrada, sem direção!
Atualmente vivemos em um mundo tão barulhento que se tornou cada dia mais difícil alcançar-mos esse silêncio que leva a compreenssão, eis uns dos motivos de tantas pessoas desesperadas, sofrendo depressões. O silêncio tornou-se algo incomodante, tendo em vista que nele deparamo-nos com quem realmente somos.
Necessário se faz que passemos por um processo de profunda cura interior, onde poderemos assim, encarar-mos nossa condição, para a partir de então, encontrar-mos esse Deus "tão distante e tão próximo!"
"A oração no silêncio me leva ao encontro, um lugar escondido no meu coração." Toca de Assis
Estudante de filosofia?
ResponderExcluirQue encanto!
Eu estudei Freud...rs E muitos outros filósofos.
Estou ao avesso de Descartes.
Eu sou onde não penso...
Adorei estar aqui. Te encontrei atraves de um comentario no meu blog.
Seguindo-te.
Um beejo, parabéns pelo espaço.
Oi,
ResponderExcluirGostei do seu blog, vou seguir vc.
Convido-o também a visitar o meu:
http://espiritual-idade.blogspot.com
Fique com Deus e que vc sempre se sinta norteado pelo Senhor da Vida.
Abraços fraternos
Oie! Passando pra conhecer e sabe que eu gostei? (rsrs)
ResponderExcluirBeijoooo
Olá, gostei de achar seu blog... partilhar do doce sabor que exala nosso Amado...
ResponderExcluirVisite-me e me sentirei feliz:
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Abraços fraternos
Olá
ResponderExcluirVisitando o Blog Essência e Palavras acabei vendo o teu Blog e vim conhecer e gostei muito do teu texto, eu gosto de conhecer blogs por isso a visita.
Uma linda noite
Luciana