Encontro
O encontro é o momento de descoberta do outro, da apresentação da pessoa que até aquele momento era desconhecida. Neste encontro a superficialidade toma conta. Notamos apenas os aspectos mais nítidos. A verdadeira riqueza da personalidade ainda está velada. Olhamos os olhos, o modo de vestir, seu modo de pentear o cabelo, mas não sabemos, com propriedade, quem é este desconhecido a nossa frente. Este momento é o de conquista, pois como já diz o velho ditado: "a primeira impressão é a que fica". No processo de identificação, do primeiro encontro, se algo der errado, a amizade é abortada ainda em sua gestação.
O tempo e a intimidade
Uma vez que "o desconhecido" venha a ser apresentado, para que ele possa fazer parte do mundo em que eu vivo, do meu circulo de experiências, memórias e amizades, é preciso que o tempo venha nos proporcionar o período necessário para sair da amizade superficial. Encontros e mais encontros, conversas que são jogadas fora, olhares, toques, expressões que transmitam ao outro parte de mim. Se o tempo for aliado, o processo de amizade entra no seu estágio principal: a intimidade. Aqui se percebe o outro na penumbra, pelo tom de voz, pelo estalar dos saltos ao pisar o velho chão. A presença é notada pelo que é despercebido a todos. Os sons que eram como todos os outros agora são o símbolo da pessoa amada. Quem não conhece a voz do amigo? Suas roupas? Perfumes? Somos até mesmo capazes de "prever" seus pensamentos.... Inclusive chegamos a dizer a mesma expressão, a mesma palavra, na mesma hora, por ocasião de um acontecimento que chega, até mesmo, atingir os amigos com a mesma forma e intensidade.
Deus, o amigo
Ver em Deus o melhor amigo exige de nós estes momentos que fazem brotar a amizade sincera e sólida. No processo de conquista a primeira impressão é a que fica. O problema que quando falamos de Deus, a primeira impressão, muitas vezes, não é a que vem d'Ele mesmo, mas a impressão que os outros deixam em nós. A imagem de Deus vingativo, carrancudo, irado, não é a impressão dada por Deus, mas antes, é a impressão dada por pessoas que também não vêem Deus como amigo. Já aqui uma grande amizade pode se esvair das mãos pelo simples fato de que alguém tenha apresentado Deus a nós de forma errada. Para conhecê-lo, tal qual é, é necessário tempo... (Aqui sugiro o livro "A Cabana").
Em Deus há este amor incondicional, próprio das amizades sinceras, que nos entende e mesmo com nossos pecados, nos ama. A experiência de ser acolhido é própria daqueles que se deixam ser amigas de Deus. A falta de reciprocidade é o que fragiliza a amizade. A indiferença se torna a grande barreira. No relacionamento com Deus a reciprocidade e indiferença tem outro nome: PECADO. Pecado significa, em grego, errar o alvo, deixar de cumprir a finalidade. O pecado, nada mais é do que a fragilização, ou mesmo rompimento, da amizade com Deus. Digo pecado não aqueles das normas e leis, o que fez de Deus um juiz intolerável, mas pecado enquanto deficiência do nosso modo de retribuir o amor.
O pecado
Falar em pecado é complicado hoje em dia, pois o pecado, no comum, é entendido como algo prazeroso e que é proibido, tornando Deus inimigo do prazer, do bem estar e de tantas outras coisas boas da vida. Pecado não pode ser entendido assim. Pecado, repito, é o que fragiliza as relações.
No casamento, o alcoolismo é o pecado que fragiliza a união da família, ou a traição que fragiliza o afeto sincero e a entrega total à esposa. Na amizade, a traição e a falsidade é o que a fragiliza. Enfim... chamo de pecado o que fragiliza e esfria os relacionamentos. Jesus veio para "abolir o pecado por meio do seu próprio sacrifício" (Hb 9,27). Anular a separação que há entre nós e Deus. A iniciativa de restaurar o relacionamento que está debilitado parte d'Ele, e nós, tão simplesmente por amor, olhamos para o que fragilizará a amizade bonita que podemos ter com Deus. Este é o processo de conversão: é o processo pelo qual repenso meus pecados enquanto elementos que fragilizam o relacionamento com Deus e, portanto, os deixo, ciente de que deixarei o que corrói o bom relacionamento amigo.
Ele é o amigo Fiel, que "imponderável é seu valor (...) e bálsamo vital" (Eclo 6,15-16). Que vem ao nosso encontro e, se o permitirmos ser conquistados, Ele trará a nós o tesouro de sua amizade.
Gosto muito da reflexão.Buscar intimidade com Deus, buscar a conversão, tudo isso é muito bom, mas quem não já se perdeu ou se sentiu desorientado nessa busca?Muitas vezes, eu mesma levada pela boa intenção de estar com Deus me fechei em mim mesma, me alienei, perdi o equilíbrio.
ResponderExcluirQuando damos um sentido sólido para o nosso estar com Deus, que é justamente a busca da conversão, ai sim, ao meu ver, estamos olhando para coisa certa e já não estamos mais buscabdo qualquer coisa, já não é mais uma união sem objetos concretos de fato importantes quando buscamos essa presença tão fundamental.
Abraço Henrique.