Há um texto chamado “Adeus ao corpo” de David Le Breton. Este texto, muito interessante, entende que o homem no futuro não terá necessidade de seu corpo, pois este é uma prisão e um fardo e a liberdade estará em não ter um corpo, mas um “espírito vivo, sintetizado no interior de um computador”. A vida humana, em suas mais variadas dimensões, seria reduzida a vida cibernética.
Nossa época tem sido marcada pela informatização de conhecimentos e de relacionamentos. Com tal rapidez, que outrora era impensável, podemos saber o que acontece no lugar mais distante desta terra, e, da mesma forma, nos comunicar com uma pessoa que está do outro lado do mundo. O distante é separado pelo intervalo das teclas acionadas que, pela tela do computador ou do seu smartphone, se torna próximo de nós numa forma rápida e virtual.
Por detrás destes avanços todos se escondem alguns problemas que queria refletir junto com você. Quero destacar os problemas da criação da falsa realidade, da falsa identidade e dos falsos relacionamentos.
De imediato o que nós notamos é a facilidade da fuga da condição concreta por parte do usuário. A condição atual é dolorosa, sofrida e angustiante. Ficar nela gera um profundo mal-estar. Como diria Pascal, filósofo francês, não conseguimos nos deitar e ficar tranquilos em nosso travesseiro, pois tão logo nos debruçamos sobre ele, tão logo nos vem toda a nossa condição de miséria. A internet serve como uma espécie de consolo nestas horas. Seu leque de atratividades (vídeos, jogos, curiosidades, chats, etc.) toma o tempo que poderia servir para a reflexão sobre a realidade e sobre si mesmo. Tantas coisas que só tem uma finalidade: roubar o tempo precioso que temos e nos levar para longe desta realidade. O encontro consigo mesmo é aterrorizante. O vazio percebido é temido e, portanto, foge-se dele “como o diabo da cruz”.
Não é à toa que sites que criam nossos “avatares” fazem tanto sucesso. Neles podemos criar uma outra realidade, a NOSSA REALIDADE, da forma como a queremos configurar. Os problemas não existem… Ocupamo-nos com a “felicidade criada” por nós mesmos numa alienação profunda onde o real é definitivamente excluído da consciência. O cibermundo é usado como anestésico e como demonstração de que a realidade, do modo como é atualmente, é odiada. O mundo das maravilhas sonhado e desejado esconde-se na virtualidade cibernética.
Por fugir da realidade, o indivíduo acaba que “se criando” na realidade virtual. Sua identidade é forjada. Outra pessoa, diferente da real, passa a existir. Quantas pessoas já não criaram um falso perfil no orkut ou no facebook? Ou um falso nick numa rede de chats? Ou um avatar no “second life”? Muitas vezes não é outra identidade em sua totalidade, mas alguns elementos falsos. Uma falsa profissão, uma falsa idade, uma falsa graduação, um idioma que não se tem idéia, fotos de lugares nunca visitados, famosos nunca contatados, carros alheios… etc. Tantas coisas que são acopladas à nossa identidade, aquela do mundo virtual, que não tocam em nada naquilo que é propriamente verdadeiro. A intenção de parecer ser uma pessoa diferente da que se é tem levado muitos para um desentendimento consigo mesmo. O pior disso tudo: como a realidade concreta é negada, o “mundo das maravilhas” toma conta de todo o pensamento e o que é real passa a não ser notado e refletido e, portanto, não pode ser transformado.
É justamente esta fuga do real que não permite que nossa sociedade seja transformada. Miséria, fome, desigualdade, ódio, violência, o pecado e tantas outras coisas maléficas permanecem como estão por não serem encaradas. Por se criar uma falsa identidade de si, o próprio relacionamento com o outro é forjado. Pessoas que “ao vivo” são intoleráveis, se tornam as melhores amigas no mundo das redes de relacionamentos. Já reparou que nós e outras tantas pessoas são mais simpáticas pelos bate-papos e rede de relacionamentos? Não é dado um “bom dia” ao vizinho quando este é encontrado no ponto de ônibus. Entretanto, se o encontramos na internet, logo falamos “quanto tempo! Que saudades. Onde esteve este tempo todo?”
Uma moça me adicionou no orkut outro dia (isso quando o orkut era a sensação do momento). Já me conhecia de uma igreja que frequentava. O incrível é que, pelo bate-papo, as conversas não tinham hora para terminar, mas quando eu a encontrei, nem mesmo um cumprimento mais formal foi me dirigido. O bom relacionamento não rompeu as barreiras do Messenger, ficou aprisionado no “logoff”.
O mesmo veículo que aproximam as pessoas umas das outras é o mesmo que limita seus relacionamentos. O indivíduo real é notado apenas na internet. Quando o encontramos no “mundo dos seres humanos” este é ignorado, despercebido e rejeitado.
A internet, sendo mal usada, tem gerado uma falsidade generalizada na pessoa humana: seus relacionamentos, sua identidade e sua realidade são abaladas em suas bases.
A pergunta que proponho aqui para concluir: quais as máscaras que este meio tem gerado em nós? Qual o “gume da faca” temos usado mais?
Oi Henrique!! Este artigo estar dotado de sabedoria,parabéns!!!
ResponderExcluirComo a falsidade virtual nos tem dominado, ótima reflexão....... obrigada.....
PAZ E BEM!!!!!!!!!
muito bom santo amigo, saudades....continue nos ajudando com suas observações que nos remetem ao coracao de Deus, nossa essência e vida ...bjs e orações ... Willian Aeternum Dei - www.aeternumdei.com.br
ResponderExcluirFascinante Henrique, pensamentos e reflexoes que tenho a respeito de tal assunto você conseguiu embasa los e dissertar muito bem. Concordo plenamente, parabéns! Grande abraço, fique com Deus!
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